A CONDIÇÃO de guerra não é nenhuma novidade; ela simplesmente
agrava a condição humana, de modo que não mais tenhamos como
ignorá-la. A vida humana sempre foi vivida à beira de um precipício. A
cultura humana sempre teve de existir sob a sombra de algo infinitamente
mais importante do que ela mesma. Se o homem tivesse adiado a busca
pelo conhecimento e pela beleza até que estivesse seguro, jamais teria
começado essa busca. É um engano querer comparar a guerra com a
“vida normal”. A vida nunca foi normal. Mesmo aqueles períodos que
consideramos os mais tranquilos, como o século dezenove, acabam se
revelando, em uma análise mais atenta, como cheios de crises, ameaças,
dificuldades e emergências. Nunca faltaram bons motivos para se interromper
atividades puramente culturais até que algum grande perigo tenha
sido evitado ou alguma injustiça gritante, posta em ordem. Contudo,
a humanidade optou, há muito tempo, por descartar as razões mais
plausíveis. Ela passou a desejar o conhecimento e a beleza agora, sem
esperar pelo momento certo, que nunca chega. Péricles de Atenas não
nos legou apenas o Parthenon, mas também sua Oração Fúnebre. Os
insetos escolheram uma estratégia diferente: eles buscam, acima de tudo,
a segurança e o bem-estar material das colmeias e dos casulos, e provavelmente
têm a sua recompensa. Os seres humanos são diferentes. Eles propõem
teoremas matemáticos em cidades sitiadas, defendem argumentos
metafísicos em celas de condenados, contam piadas na fila de execução,
discutem o mais novo poema enquanto avançam sobre os muros do
Quebec, e penteiam o cabelo na batalha de Thermopylae. Isso não é estilo;
é a nossa natureza.
— de The Weight of Glory [Peso de Glória]
1939 Grã Bretanha e França declaram guerra contra a Alemanha.
Retirado de Um Ano com C.S. Lewis (Editora Ultimato, 2009).
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